domingo, 28 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.4 - A GRÉCIA - HOMERO

MAÇONARIA
ORIGENS INICIÁTICAS

7.4
A GRÉCIA
HOMERO

Há muito que se pergunta se as obras de Homero contêm um ensinamento iniciático e muitos autores antigos decidiram a favor da afirmativa.
Efetivamente, certos textos são bastante prováveis nesta forma de ordem dos fatos.
A magia reina no domínio destes poemas. É por magia que Circe muda em porcos os companheiros de Ulisses, caídos em seu poder, ao passo que Ulisses a dominou, porque a força de vontade do iniciado domina sempre o que vem dos sentidos e do psiquismo inferior.
Ulisses é, além disso, o símbolo perfeito do iniciado. Quando ele deve enfrentar as Sereias, que simbolizam as ciladas deliciosas da Natureza, ciladas mortais sob a aparência agradável, tapa os ouvidos de seus companheiros, agarrando-se ao mastro do navio para não cair na deliciosa cilada.
Os oráculos de Cassandra se relacionam aos fenômenos intuitivos, mas, se devemos crer nos Alexandrinos, Homero contém ensinamentos de uma bondade mística muito mais alta.
Nenhuma obra, a este respeito, é mais característica do que o Antro das Ninfas.
Este antro está situado na ilha de Itaca. É um lugar sagrado que encerra as riquezas do iniciado.
A descrição do antro, tal como Homero nos mostra na XII rapsódia da Odisséia, é bastante para atrair a glosa de Porfírio, cuja tradução devemos a Pierre Quillard:

À entrada do porto cresce uma oliveira de grande copa,
Junto a ela se abre o antro amável e tenebroso,
Consagrado às Ninfas que denominamos Náiades,
Dentro, existem crateras e ânforas
De pedra, onde abelhas constroem suas colméias;
Há também longos trabalhos de pedra nos quais as Ninfas
Tecem panos tintos de púrpura maravilhosa à vista;
Ali também correm fontes inesgotáveis e existem duas entradas:
Uma para o Bóreas, deixa descer os homens;
Outra para o Notos, é para os deuses,
E jamais por ele entrarão os homens; porém, esse é o caminho dos imortais.

Este antro é a imagem mística do destino das almas; é o símbolo, e um detalhe não é sem importância nesta singular alegoria. O antro, dizíamos, é o mundo e tem duas aberturas: uma para os homens e outra para os deuses; os visitantes, de uma natureza tão diferente, jamais erram a porta.
O antro cheio de sombras é doce e fresco, e o murmúrio das fontes torna-o ameno, apesar das suas sombras.
E a explicação de Porfírio começa por certificar que o trecho de Homero não era arbitrário nem fantasista:
“Neste ponto – diz ele – não há uma fábula imaginada ao acaso por simples prazer do espírito e não contém mais a descrição de um lugar, porém, é preciso ver uma alegoria do poeta que colocou misticamente uma oliveira perto do antro”.
A oliveira, árvore de Palas, é uma árvore sagrada entre todas e o lugar desta árvore pacífica, no limiar do antro dos iniciados, bastaria para atrair a atenção, porque não é nas tempestades de cólera nem nos tumultos de ambição que Deus consente em se revelar aos mortos.
O antro, segundo Porfírio, é o símbolo do mundo. É para ele que as almas descem nesta vida material, e é por ele que elas voltam ao mundo superior.
Por que um antro? Antes de tudo, os antros e grutas, devido ao seu aspecto de sala preparada de antemão por uma potência desconhecida, sempre pareceram misteriosos e sagrados.
“Os antigos – diz Porfírio – consagravam os antros e as cavernas ao Mundo considerado em sua universalidade ou em suas partes: tomavam a terra por símbolo da Matéria de que é composto o Mundo; aí se pensava também que era pelo motivo da terra designar a matéria e significava por antros que o Mundo era composto pela matéria”.
É, pois, desprendendo-se da matéria, esclarecendo-a pela luz que lhe é exterior, que vem toda beleza que lhe é acessível, a fazer brotar as formas que ela é suscetível de tomar. E Porfírio faz observar que, mesmo os Persas, para fazerem compreender por um símbolo a descida da alma na matéria e a sua ascensão no mundo da Luz, dão o nome de caverna ao lugar onde se passa a iniciação, a fim de que o iniciado se desprenda inteiramente da matéria e dos encantos que possui o mundo sensível.
“Os antros eram dedicados às Ninfas e sobretudo as Náiades que velam as fontes e tiram o seu nome das águas de onde decorrem”.
As fontes, cuja origem era uma espécie de prodígio para os antigos, era-lhes sagradas.
As Náiades, as Ninfas são as energias personificadas da matéria e este antro, onde as águas correm perpetuamente, “não simbolizam a essência inteligível, mas a substância unida à matéria”.
Tomado pelo simbolismo destas águas que vêm não se sabe de onde para nascer à luz, Porfírio acrescenta que as Náiades “são almas que desejam nascer”.
Quanto às crateras e as ânforas de pedra, são “os símbolos das Ninfas Hidríadas. Porque as ânforas e as crateras de argila são os símbolos de Dionisios”.
As crateras e as ânforas de pedra convêm muito às Ninfas que presidem as águas que brotam das pedras. E quais símbolos seriam mais bem apropriados senão os naturais para as almas que descem para a geração e a produção do corpo? Assim o poeta ousou dizer que, sobre estes meios, as Ninfas:

TECEM PANOS TINTOS DE PÚRPURA MARAVILHOSA À VISTA.

Como pertencentes às Ninfas, os lugares são de pedra, mas desde que a geração dos seres humanos começa a se manifestar, o simbolismo se precisa e eis aqui o que diz Porfírio:
“É nos ossos e em torno deles que se forma a carne: eles são de pedra no corpo dos animais e são comparados à pedra. Porém, os meios são feitos de pedra, e não de outra matéria”.
“E os panos de púrpura não são outros senão a carne unida ao sangue; efetivamente, os tosões de púrpura são impregnados de sangue e a lã é tinta no sangue e a carne vem a ser sangue. E o corpo é a vestimenta da alma e há um espetáculo admirável, quer seja considerada a composição ou a união com a alma”.
Falando das ânforas de pedra, Homero ajunta:

... ONDE AS ABELHAS CONSTRÓEM SUAS COLMÉIAS.

“Os teólogos serviram-se do mel para um grande número de símbolos diversos. Ele purifica e conserva: graças a ele muitas coisas vêm a ser incorruptíveis e as úlceras antigas são curadas por ele; é doce gozar e, em certas cerimônias, come-se o mel porque purifica a língua de todo erro”.
O mel é a nutrição dos deuses e é por isso que deve ser sagrado para os homens.
A própria abelha é sagrada e ela é a imagem de uma alma elevada.
A abelha é um animal instruído pelos deuses e a perfeição dos alvéolos onde ela distila o seu mel tem sempre causado a admiração dos observadores.
O antro das Ninfas tem dois destinos: um – diz Homero – está voltado para Bóreas, e o outro, mais divino, para o Notos e se pode descer por aquele que olha para o Bóreas, mas não se indica se é possível descer por aquele que esta voltado para o Notos, e diz somente que:

JAMAIS POR ELE ENTRARÃO HOMENS; PORÉM ESSE É O CAMINHO DOS IMORTAIS.

O Bóreas servia para a descida das almas. Quanto à região do Notos são reservadas, não aos deuses, mas àqueles que sobem para os deuses.
Por isso, Homero diz, não o caminho dos deuses, mas o caminho dos imortais, isto é, o caminho daqueles que são vitoriosos das experiências, que têm vencido a segunda morte; aqueles não nascerão e não morrerão jamais.
O símbolo da oliveira não é menos freqüente, nem menos admirável.

À ENTRADA DO PORTO CRESCE UMA OLIVEIRA DE GRANDE COPA,
JUNTO A ELA SE ABRE O ANTRO ......................................................................

“Não é por acaso, que esta oliveira surge ali, mas indica também a significação misteriosa do antro. O mundo efetivamente, não é nascido arbitrariamente e por acaso, mas é a obra do pensamento divino e da natureza inteligente; e, diante do antro, a imagem do mundo, está a oliveira, símbolo da sabedoria divina”.
Porfírio fala de uma época em que escritos iniciáticos, para atingir os iniciados, se arriscam de cair em mãos profanas; também escreve para mais leitores do que desejaria. Eis porque se defende de ter posto o que quer que fosse de pessoal na sua explicação que provém de uma tradição esotérica:
“Que não se tomem tais interpretações como forçadas e crendo que elas sejam conjecturas de homens sutis. É preciso notar qual era a sabedoria antiga e, cuidando como Homero e é sua exata consciência de toda a virtude, não negar que, sob a forma de mitos, ele ocultou misteriosamente a imagem das coisas divinas. Não podia efetivamente, deixar de fazer uma ficção completa e que não teve nenhum objeto verdadeiro por origem”.
O sentido secreto assim exposto por Porfírio corresponde ao pensamento de Homero? O fato é verossímil, porém muito difícil de provar.
Certamente, Homero está cheio de alusões místicas e nós encontraremos seus hinos quando tratarmos dos mistérios de Eleusis que tiveram importância tão grande na vida da Grécia.
Seja o que for, parece-nos interessante dar aqui, a título documentário, os trechos essenciais do trabalho de Porfírio, tendentes a demonstrar que Homero foi um grande iniciado e que, sob o agradável véu da ficção, seus poemas admiráveis continham alguns segredos de iniciação helênica.

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domingo, 14 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.3 - A GRÉCIA - ENSINAMENTOS ESOTÉRICOS

7.3
A GRÉCIA
ENSINAMENTOS ESOTÉRICOS

É primeiramente nas Fábulas, nas Alegorias, que nós procuramos a idéia iniciática, o ensinamento esotérico da Grécia.
Vamos nos limitar à citação de Édipo, dentre outras, como uma das mais ricas em revelações misteriosas.
Édipo, o vencedor da Esfinge, é filho de Laios, e de Jocasta, soberanos de Tebas, que teriam vivido no século XV A . C.
O seu nascimento foi assinalado pelo Oráculo, que lhe tinha anunciado as piores infelicidades.
O menino devia matar o seu pai, desposar sua mãe e, depois de ter passado alguns anos miseráveis, morrer no bosque das Fúrias. Laios pensou que não valeria a pena que tal filho vivesse; confiou-o a um de seus pastores para que lhe desse a morte. O pastor não teve coragem de executar esta ordem, mas pendurou o menino pelos pés no monte Citheron e o abandonou, cuidando que, com tanto frio que reinava, a fome e os animais ferozes cumprissem o assassínio que lhe repugnava.
Nada disso sucedeu. Descoberto pelos pastores e caçadores, Édipo, que devia seu nome (pés inchados) ao estado em que se achava, foi conduzido ao rei de Corinto: Polibio. Este, velho e sem filhos, adotou-o com o consentimento de sua esposa.
Chegado à adolescência, o jovem conheceu o Oráculo e, com medo de matar Polibio, do qual acreditava ser filho, fugiu ao acaso pelos caminhos.
A um dado momento, encontrou-se com um carro rodeado de uma fraca escolta. Questionando com os passageiros, encheu-se de fúria e agrediu um velho, matando-o . Era Laio.
Uma parte do Oráculo já estava assim realizada; ele continua o seu caminho, e, tendo sabido que a cidade de Tebas estava desolada pela Esfinge, voltou para esta cidade, triunfou do animal alado e, segundo as condições que tinham sido fixadas, desposou a mulher de Laio, a rainha Jocasta, sua mãe, da qual teve muitos filhos.
A Esfinge era um animal monstruoso que estava às portas da cidade. De um rochedo, apresentava aos transeuntes um enigma, sempre o mesmo. Aqueles que não podiam explica-lo caiam em seu poder. Estraçalhava-os com suas garras e devorava-os.
Eis o enigma: Qual é o animal que caminha de quatro pés ao amanhecer, de dois ao meio dia e de três ao pôr do sol?
Édipo, tendo percebido o mistério respondeu: “é o homem”.
E a Esfinge, caindo em poder do vencedor, foi morta por ele.
O animal assim descrito é, o homem. Menino, na aurora da vida, ele move sobre as mãos e os pés. Ao meio dia de sua carreira, em pleno meio dia de sua força, ele caminha com seus dois pés. Mas, à tarde, quando declina o ardor de sua força, ele caminha com três pés, servindo-se de seu bastão.
E Court de Gébelin sugere, então, uma interpretação da fábula:
“A Esfinge é a ciência envolvida em alegorias; é um monstro; porque esta ciência é um acúmulo de prodígios de toda a espécie; ela é representada por um rosto, mãos e voz de mulher, para notar seus atrativos e sua graça; suas asas denotam o vôo elevado das Ciências e que são feitas para se comunicar rapidamente a todos os espíritos. As suas garras são a profundeza e a força irresistível e penetrante de seus argumentos e de seus axiomas”.
Só explica estes enigmas quem tem os pés inchados e doentes: porque não é com pressa que se decifram os enigmas da Esfinge.
“Enfim, duas condições estão ligadas a estas alegorias: ser despedaçado, se não puder explicar, ou ser rei se os decifrar. Efetivamente, aquele que não as pode desenvolver tem o espírito continuamente deprimido e aquele que as decifra é rei no sentido alegórico e filosófico, isto é, um Sábio, como se exprimem os estóicos; o Sábio é rei; reina sobre si mesmo e sobre a natureza que ele conhece”.
A ciência aqui é a ciência secreta, bem superior a toda a ciência. A ciência ordinária dá conhecimentos que não podem servir de base ao Conhecimento, fim de nossos esforços.
Uma aproximação impõe-se entre a Esfinge de Gizé e a Esfinge morta por Édipo. É um simbolismo idêntico sob duas formas diferentes.
No Egito, a idéia religiosa foi posta sob a guarda do deserto.
O gênio alado da Grécia confiou o seu pensamento ao tesouro vivo e movimentado das fábulas.
No Egito, vimos a sua quádrupla natureza nos dar a palavra quádrupla do eterno enigma.
A cabeça de mulher, cujo olhar é vago e penetrante, diz: SABER; os flancos do touro forte dizem: QUERER; as garras de leão mandam OUSAR, e as asas fechadas, apenas visíveis, ordenam CALAR.
É isto que devia compreender o neófito, e não é senão depois de lhe ter explicado que ele tinha o direito de penetrar, pelo peito do monstro, nos corredores subterrâneos e nas salas iniciáticas onde tinham lugar as provas que faziam atingir os Mistérios.
O fim supremo é a Ciência, o conhecimento do mundo, do homem, de Deus, a união à Divindade, o perfeito ideal do Sábio.
Na Grécia, o monstro alado é quase semelhante, mas foi confiado à lira dos poetas.
As dificuldades que encontravam Édipo e o iniciado do Egito, e que todos deveriam suplantar, eram as mesmas.
Alguém devia adivinhar a Esfinge, outro devia explicar a Esfinge, tarefa bem árdua por todos os modos.
Se o neófito grego não dava uma resposta satisfatória à questão exposta, caía sob as garras do monstro, ao passo que o postulante aos mistérios egípcios, para quem a Esfinge de pedra era letra morta, repelia ao limiar das experiências, caía em profunda e irremediável dor! A iniciação era-lhe vedada.
Mas Édipo, como o,outro iniciado, respondeu vitoriosamente. O egípcio foi admitido aos Mistérios da Deusa Isis. Ele foi iniciado; por seu labor e seu estudo, atingiu aos graus superiores. Édipo é rei, mas suas experiências não foram terminadas. A sua realeza não é senão a imagem daquele que procura a iniciação. A paz real, a verdadeira luz, o infortunado filho de Laio não as achará senão sob a sombra negra do bosque das Fúrias, quando, ao renunciar a todas as alegrias e às glorias do mundo, for votado aos deuses e, morto como o iniciado em um sarcófago, vier a ser objeto de culto e de benção para aqueles que herdaram seu corpo – suas obras – tudo o que fica ao mundo do iniciado digno deste nome.

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sábado, 13 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.2 - A GRÉCIA - ENSINAMENTOS EXOTÉRICOS

7.2
A GRÉCIA
ENSINAMENTOS EXOTÉRICOS

No ponto de vista exotérico, parece que tudo o que impressiona primeiramente, na Grécia, é este número de deuses. Todas as forças naturais são personificadas.
Urano é o céu estrelado; Cronos, o tempo; Zeus, o céu agradável; Hera, o céu tempestuoso; Poseidon ou Netuno, o mar. Precisaríamos muitas páginas para enumerar todos.
Como isso também não bastasse, uma multidão de semideuses se fazia abrir o Olimpo por suas ações maravilhosas.
No céu vivia Zeus, pai dos deuses e dos homens, que os latinos chamam Júpiter.
Eis um fragmento do hino órfico que Creuzer tirou de Stobeu:
“Zeus foi o primeiro e o último; Zeus é a cabeça e o meio; Dele provêm todas as coisas; Zeus é a base da terra e dos céus; Zeus é o sopro que anima todos os seres; Zeus anima o fogo; Zeus é o sol e a luz; Zeus é o rei; Zeus criou todas as coisas! É uma força, um Deus, grande princípio de tudo; um só corpo excelente que abraçou todos os seres, o fogo, a água, a terra, a noite e o dia, e Metis a criadora primitiva, e o amor, cheio de encontros. Todos os seres são sustentados no corpo imenso de Zeus”.
Zeus com sua esposa Hera, tem um único filho (Marte), o Deus das batalhas. Palas Atenas (Minerva) é apenas filha de Zeus.
No céu estão Apolo, Hélios e outros. Sobre a terra primeiramente os Titãs, Demeter, Dionisios (Bacchus), Pã.
Cada fonte tem a sua Náide, no mar o irmão de Zeus, Poseidon ou Netuno com sua esposa Anfritrite, e o coro numeroso das Oceânidas, das Nereidas, dos Tritões, as perigosas Sereias.
Hefaistos (Vulcano), Hestia (a Vesta dos latinos), Hades (Plutão), Perséfone (Proserpina), filha de Demeter, Hermes (Mercúrio).
Os numerosos heróis, Hércules que desposou Hebe, a eterna juventude, Castor e Polux, Perseu, Erecteu e tantos outros.
É fácil encontrar concordância entre os principais deuses egípcios e gregos, porque, em todas as religiões, a idéia exotérica foi a personificação das forças naturais e esta personificação criou tantos deuses como forças representadas; para os iniciados, eram as manifestações múltiplas de um Deus único e todo poderoso.
No Egito o Deus supremo é Amon-Ra e Grécia é Zeus.
Tot, é também Hermes Trismegisto, Corresponde a Hermes, que é Mercúrio.
Osíris, o sol dos egípcios, sol dos mortos, em seu papel de Serapis e recolocado por Dionisios (Bacchus), que é representado sob os traços de um herói, conquistador, é o sol nos mistérios de Eleusis.
Horus egípcio, é Apolo.
O bode de Mendes, imagem bizarra da natureza inferior na palpitação de seu poder formidável, é Pã, com seus pés de cabra. A deusa lunar Bubaste, é Artemísia, a nossa Diana, que sob o nome de Artemísia, corre os bosques em companhia de suas ninfas. Sob o nome Febea, a encontramos nos ritos mágicos, velados sob o terrível nome de Hecate. A grande mãe Isis é recolocada por Demeter, detentora dos segredos iniciáticos. Hestia é a personificação de Phtah.
Não basta conhecer os deuses, é preciso torná-los favoráveis.
O primeiro culto estabelecido, tanto na Grécia como em todos os países da raça ariana, foi o culto dos mortos.
O Oráculo mais ilustre, era o do Templo de Delfos. Outros lugares santos davam sonhos; tal era o santuário de Asclepios em Epidauro.
O Oráculo de Delfos era representado pela Pitia. O nome de Pitia era-lhe dado porque foi em Delfos que Apolo exterminou a serpente Pitia, que sabia das coisas secretas que não são reveladas a todos os mortais.
Acha-se muitas vezes a serpente no simbolismo das iniciações mágicas e sagradas; sempre representa um mistério perigoso, que é preciso dominar.
A viagem de Ulisses ao Inferno, em Homero, a de Enéias na Eneida, nos dão a nota sobre o pensamento Grego no que concerne aos mortos.
No reino fúnebre, habitam as pálidas Enfermidades, a triste Velhice, o Medo, a Fome, perigosa conselheira de todos os crimes, o Trabalho, a Morte e seu irmão o Sono, a Guerra, a Discórdia e as Fúrias.
O Averno, o lago considerado a primeira porta do Inferno. O Aqueronte, o rio em que as almas devem passar.
No palácio de Plutão, guardado por Cérbero, o cão dos Infernos, estão as almas. No bosque está a morada dos heróis. Perto, está o tribunal onde estão Minos, Éaco e Radamante.
O Tártaro, é a prisão eterna.
Homero e Virgílio descrevem os Campos Elísios, onde repousam os bem-aventurados que merecem esta morada.
O Tártaro para os ímpios e os Campos Elísios para os justos não são, contudo, duas moradas definitivas.
Acreditava-se geralmente que as penas do Tártaro teriam mil anos e que as almas, tendo purgado as suas penas, voltavam a este mundo para animar novos corpos, procurar um outro destino, aproximando-se de uma evolução melhor.
Antes de deixar o lugar subterrâneo, as almas punidas deviam tornar a encontrar a frescura da primeira energia no esquecimento completo de seus males, bebendo as águas do Letes que não lhes deixavam mais a imagem.
Voltavam então a este mundo.

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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.1 - A GRÉCIA

6.7
A GRÉCIA

Na Grécia, como na China, Índias e no Egito, encontramos uma iniciação que estabeleceu, à margem da religião oficial, um ensinamento esotérico, reservado a uma elite e que não era concedida ao adepto senão após certas experiências que asseguravam a sua constância e a idéia que se poderia fazer sobre a sua boa fé e o seu caráter.
Os ensinamentos helênicos são enfeitados de uma mitologia deliciosa que parece afastar as idéias sérias, o que pode ter de lento em um ensinamento recusado a profanos.
Como nas Índias e no Egito o número de deuses e de semideuses é quase infinito, porém nunca os deuses tiveram a forma e o pensamento mais humano, nunca foram misturados à vida do homem com uma tão doce e tão fraternal familiaridade.
Nas grandes epopéias, os deuses não ficam sobre o seu Olimpo, mas lutam ao lado do seu herói favorito.
Mas, toda esta graça e esta poesia não ocultam senão um esoterismo poderoso, e achamos na Grécia três ciclos iniciáticos colocados sob o nome de três ilustres iniciados: os mistérios de Dionísio, que vêm da Trácia e que são atribuídos a Pitágoras, porém cuja severa doutrina tenta fazer reviver a austeridade Doria: ; os mistérios de Eleusis, de que Platão é a flor ofuscante, porém que nasceram muito antes dele em honra à maternal Demeter.
Certamente, a maioria destes mistérios era tirada de Isis e de Osíris, que vimos no Egito, ainda que se encontre uma parte do gênio pessoal, vindo do sentimento da raça e das lembranças de uma antiga religião autócene; mas para quem sabe ler e escrever, pode ver através dos símbolos e das palavras floreadas e sonoras do poeta, uma mesma idéia, um mesmo pensamento iniciático levou o pensamento do mundo a todos os países, todas as raças, a todos os tempos, com fracas modificações, que provêm dos costumes, certamente mais mutáveis do que as idéias primordiais da humanidade.
Os mistérios gregos decorrem dos mistérios egípcios, isso é inegável; porém, como as coisas são apresentadas diferentemente pelas duas raças tão dessemelhantes!
No Egito, a iniciação toma o aspecto terrível que não é fácil de abordar e de que não teria logo tendência a se afastar, se o desejo da alta ciência não fosse daqueles que fazem bravura de todas as experiências.
Estas experiências, nos santuários do Egito, tornavam o acesso de iniciação quase impossível. A ascese imposta era de uma severidade temível. Tudo era feito para inspirar o terror e afastar o noviço.
Na Grécia, tudo era diferente. Certamente, não se tinha o acesso aos mistérios por uma simples pergunta, e precisava mostrar antes qualidades de força de alma e resistência física.
Mas, uma vez obtido este resultado, o terror, que nunca tinha existido, desaparecia inteiramente. Todos os poetas gregos que foram iniciados – sobretudo nos mistérios de Eleusis – falam de sua iniciação e de suas festas secretas como da maior alegria da vida. Seu coro de Bem-aventurados nas Rãs de Aristófanes mostra o que era esta alegria.
E os próprios ensinamentos eram enfeitados de todas as graças de arte e entusiasmo. Tudo não era senão festas e jogos no país da beleza. Portanto, os ensinamentos eram os mesmos. Como a iniciação egípcia, o Templo de Delfos ordenava ao adepto a Conhecer-se a si mesmo.
Os mistérios de Orfeu e de Demeter faziam conhecer a certeza das vidas sucessivas e a ascensão do ser que, de luta em luta, chegava a uma pureza cada vez mais perfeita e juntava o grupo dos Olimpos sobre os cumes coroados de sol. Porque a Grécia superabundava de heróis divinizados pelas grandes ações. A barreira entre o céu e a terra não foi franqueada nunca. Mas, antes de poder encarar estas vastas esperanças, é preciso conhecer Deus, compenetra-se de sua grandeza e de sua justiça, ver no Todo Poderoso a imagem da Ordem divinizada.
E este conhecimento de Deus, ordenador da matéria conduzia muito naturalmente ao conhecimento de Deus, sem o qual não poderia haver ordem perfeita.
Na Grécia, país da luz, a lógica é soberana e, ainda que coroado de todas as flores da ficção, ela não se deixa levar pelo perfume delicioso.
Examinaremos sucessivamente o lado exotérico e o lado esotérico. Eles são diferentes, certamente, porém, não muito afastados.

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domingo, 31 de agosto de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 6.6 - O EGITO - A INICIAÇÃO - 2ª PARTE

6.6
O EGITO
A INICIAÇÃO – 2ª PARTE

Depois das preces que vimos fazer sobre o iniciado, após haver chegado ao termo de suas provas, começa a verdadeira iniciação. Ela se fazia no interior dos templos. O novo adepto assistia às cerimônias e seu simbolismo era-lhe revelado.
Ele sabia porque Isis sentada tem um livro, porque Isis de pé,m conduz o sistro; porque Anúbis tem a cabeça de chacal e Thot a de íbis.
Começava a aprender os pequenos e grandes Mistérios de Isis.
O iniciado recebia a noção de um Deus único.
A última experiência que o devia conduzir à luz absoluta, mas esta luz não se manifesta senão àqueles que são mortos para as coisas do mundo.
Eis porque esta experiência tinha lugar em um sarcófago.
O adepto era colocado em um sarcófago aberto e devia passar toda a noite em meditação e prece. Deixavam-no inteiramente só neste leito funerário, no meio das mais expressas trevas e, apesar disso, o quadro deste abandono era de tal modo triste e sinistro que ele sentia o espanto deslizar sobre si mesmo e gelar a sua vontade. Era um momento cruel em que era necessário fazer brilhar o domínio que tinha adquirido sobre as suas impulsividades.
Dominava o seu espanto e, no silêncio absoluto, em tudo semelhante à morte, pedia a iluminação.
Certamente sentia a sua força vital abandonar o seu corpo; porém, que importa o corpo àquele que sabe que é apenas o invólucro transitório de um ser quase divino?
No Livro dos Mortos vimos que, segundo o julgamento que sucede à morte, o justo estava livre das cadeias terrestres e se identificava ao seu Deus, vindo a ser o próprio Deus, o próprio Osíris.
Era o mesmo para o sábio que passasse esta experiência do sarcófago. Isto não era a morte, mas a própria vontade do adepto que o desprendia de seus liames terrestres.
O adepto entrava vivo no túmulo e saía vivo, mas tendo penetrado antes na Luz de Osíris. É neste momento de desprendimento supremo que a revelação lhe é feita; era uma verdadeira morte; uma verdadeira renascença!
O sarcófago, sob o seu terrificante simbolismo, era encarregado de simular a morte do corpo físico e o renascimento do espírito sobre um plano superior. Era o fim do ciclo. Era uma vida inferior que terminava para que a alma pudesse romper no esplendor da verdade.
Saído logo do túmulo, na manhã desta noite mística, o iniciado renascia para uma vida espiritual mais elevada; recebia um novo nome; era iniciado em uma ordem superior. Tinha conquistado a coroa sacerdotal.
Compreendia então, perfeitamente este enigma da Esfinge, que lhe tinha dito primeiramente a necessidade de, Saber, Querer, Ousar e Calar. Tinha adquirido as ciências e, sobretudo, a ciência do invisível; a sua vontade bem dirigida, tinha vencido as suas impulsividades; sabia Ousar apesar do medo, com a medida que convém àquele que sabe combinar o seu esforço conforme os efeitos a produzir. Tinha perdido esta glória vã que conduz a revelar os segredos iniciáticos para mostrar o seu saber. Era aguerrido contra os inimigos, tanto exteriores como interiores.
A vida suprema estava começada e o iniciado compreendia agora a fórmula que o tinha surpreendido tanto no limiar dos caminhos iniciáticos:
“Quem fizer o seu caminho só e sem olhar para trás, será purificado pelo Fogo, pela Água e pelo Ar; e, se puder vencer o medo da morte, sairá do seio da terra, tornará a ver a luz e terá o direito de preparar a sua alma à revelação dos Mistérios da grande Deusa Isis”. Morto voluntário e temporariamente por um poderoso esforço de sua vontade dominada, via cair o véu de Isis, e esta inscrição também não era mentirosa. Ele não tinha tocado o véu da Deusa senão tornando-se imortal, unido a Deus desde esta vida; o véu ficava intangível à mão de todos os mortais. O livro era-lhe aberto; lia com embriagues, como o viajante que descobre uma fonte e banha o seu rosto para fazer penetrar a sua frescura no mais íntimo dos poros. Todo o véu cai diante dos olhos do espírito livre; não há segredos nem barreiras para o verdadeiro iniciado.
Apuleio, como testemunha do mistério que era exigido aos iniciados, do segredo ao qual se ligavam pela ameaça das penas mais temíveis; não era mais explícito no que concerne ao começo e ao fim da iniciação:
“aproximei-me dos limites da morte, passei junto do solo de Proserpina, e voltei através de todos os elementos. Ao meio da noite, vi o sol brilhar no seu ofuscante clarão; aproximei-me dos deuses do inferno, dos deuses do céu; eu os vi, pois, face a face, eu os adorei de perto. Eis tudo o que posso dizer, e, posto que os vossos ouvidos tenham percebido essas palavras, estais condenados a deixar de compreende-las”.
Eis aí tudo o que veio ou um pouco aproximadamente sobre as iniciações do Egito.
Pesquisas permitiram descobrir, metido na areia do deserto, a 40 metros da Esfinge de Ghizeh, um Templo de granito ou templo da Esfinge. Sobre este Templo, Al. Gayet diz: “Nenhuma inscrição; nenhuma pintura; nenhum baixo relevo; nada indica o destino deste velho santuário. Não é de se supor que isso possa ser o Templo de Osíris, mencionado no monólito de Khoufou. Era o templo de Hor-m-Khout – da Esfinge? Qual seria este Templo? Qual poderia ser o seu uso?”. Não poderia haver nisso um caso fortuito; o sacerdócio egípcio não deixava fazer coisa alguma ao acaso.
Só as escavações que continuam poderão esclarecer alguma coisa sobre os traços do mais prodigioso passado da humanidade.
Porque, como vimos, salvo as palavras de Plutarco e as insinuações de Apuleio, muito pouco nos veio dos Mistérios de Isis e de Osíris.
Muitos Gregos entre os mais ilustres, vinham estudar a sabedoria à sombra da Esfinge.
Entretanto, é verossímil que destas cerimônias iniciáticas nascessem os Mistérios de Eleusis, que Orfeu, segundo a tradição, adaptou ao gênio plástico da Grécia.
Em nossos dias, a Maçonaria afirma ter do antigo Egito as suas provas iniciáticas, reduzidas a fórmulas e símbolos que não são sem grandeza.
Em todo caso, aquele que quer vir a ser maçom deve passar pela provas do Fogo, da Água e do Ar, mesmo a da morte como o iniciado de Isis.
Outras instituições também buscaram no antigo Egito os seus rituais iniciáticos.
Em todos os tempos, os símbolos, muito idênticos, velaram os mesmos ensinamentos.
Ainda hoje, aqueles que desconhecem as origens iniciáticas, acreditam que os vários rituais que se praticam em diversas instituições são secretos e devem continuar assim. Não são secretos há mais de 3.000 anos, somente os pesquisadores e estudantes buscadores sabem que os rituais iniciáticos se originaram milênios de anos atrás, com a sabedoria vinda da China, Índia, Egito e de outros lugares como veremos em seguida.

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MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 6.5 - O EGITO - OS MISTÉRIOS DE ISIS E DE OSIRIS - A INICIAÇÃO - 1ª PARTE

6.5
O EGITO
OS MISTÉRIOS DE ISIS E DE OSIRIS
A INICIAÇÃO – 1ª PARTE

Como se concedia a iniciação?
É o que nenhum documento preciso nos afirma com certeza. Há, em diversos lugares, uma lenda que não parece despida de fundamento e onde se fala de terríveis provas, às quais eram submetidos aqueles que deviam, depois da vitória, serem admitidos à iniciação.
Estas provas, como em todos os ritos iniciáticos, eram praticadas nos Templos.
Os de Tebas e de Menfis guardaram o mais ilustre renome entre os santuários do Egito antigo.
A grande pirâmide de Kheops, perto da qual a esfinge guarda a sua atitude vigilante, foi também um lugar de iniciação, célebre entre os mais reputados.
Ante de tudo, o futuro iniciado era posto ao corrente das dificuldades da tarefa à qual ele ousava enfrentar.
Era conduzido até a estátua de Isis assentada, tendo sobre os joelhos um livro fechado e cujo corpo e rosto estavam cobertos por um véu impenetrável, onde estava escrito: “Eu sou a grande Isis; nenhum mortal levantou o véu que me encobre”.
A Esfinge com a sua quádrupla do enigma: Saber, Querer, Ousar, Calar. A sua data de construção é do tempo das dinastias fabulosas dos Shesú-Hor.
As pirâmides são muitas conhecidas, não sendo necessário a sua descrição.
A tradição relata que as iniciações sagradas se faziam em parte na Esfinge e em parte na grande pirâmide que continha salas especiais para esse fim.
O Abade Terrason, em um romance fala sobre o herói Séthos, que está animado do mais vivo desejo de ser iniciado. Séthos tem por dever instruir-se e preparar-se por meio de longos trabalhos para as revelações que ele solicitou.
Amadeu, seu mestre, enfrente a grande pirâmide lhe diz: “Seus caminhos secretos conduzem os homens queridos dos deuses a um termo que eu apenas não posso citar e que é preciso que os deuses, façam nascer em vós o desejo. A entrada da pirâmide está aberta a todo o mundo; mas eu lamento aqueles que saindo pela mesma porta por onde entraram, não tenham satisfeito senão uma curiosidade muito imperfeita e só tenham visto o que lhes é permitido contar”.
Séthos entrou no caminho das provas; porém, que provas eram estas?
1- A da Terra: dois iniciados o levam por um corredor estreito até um lugar sem outra saída senão a abertura por onde tinham entrado.
À claridade de uma lâmpada, via-se um poço de uma profundidade desmesurada, era a morte certa. O poço parecia insondável.
Aqueles que não tinham coragem, detinham-se. O terror privava-os dos meios de descobrir o segredo de um acesso fácil.
Na sombra, dissimulavam-se os degraus de ferro que permitiam ao pretendente descer. Os degraus acabavam subitamente, muito antes que o adepto pudesse atingir ao fundo e o pretendente cria-se votado a uma morte certa.
Entretanto na sombra do poço, uma espécie de janela acessível depois do último degrau, levava para outro caminho nas profundezas que terminava em frente a um portal, atrás dele escadas com claridade e sons de vozes humanas o conduzia a um Templo, onde havia o caminho das purificações com esta inscrição: “Quem fizer este caminho só e sem olhar para trás, será purificado pelo fogo, pela água e pelo ar; e se puder vencer o terror da morte, sairá do seio da terra, tornará a ver a luz e terá o direito de preparar a sua alma para a revelação dos mistérios da grande Deusa Isis”.
Aquele que não retrocedia, avançava pelo corredor que levava a uma porta, onde três homens portavam capacetes levando a cabeça de Anúbis, era a porta da morte que conduzia ao renascimento, e um deles dizia: “nós não estamos aqui para impedir o teu caminho. Segue-o, se os deuses te derem coragem. Mas, se sentes infeliz, podes voltar sobre teus passos; podes ainda voltar. Todavia, desde este momento, não poderás sair mais destes lugares, se não saíres agora a toda pressa pela passagem que se abre diante de ti, sem voltar a cabeça e sem recuar”.
Era de uma clareza perfeita e o candidato tinha ainda a liberdade de escolher – para sofrer as provas inevitáveis ou voltar à vida ordinária.
Geralmente, prosseguia a senda e era neste momento que as terríveis provas recomeçavam.
2- A do Fogo: ao entrar por uma porta, achava-se em uma câmara abobadada que resplandecia de luzes estranhas. Ela estava toda em fogo. Grandes fogueiras estavam de cada lado e, no solo, estava colocada uma grade de ferro vermelha pelo fogo. Esta grade formava losangos bem grandes para que o pé do candidato pudesse colocar-se nos interstícios. Parecia que um ser vivo não poderia enfrentar esta fornalha sem perecer queimado ou sufocado.
O juramento prestado fechava toda a saída, e o desejo da iniciação devia ser mais forte do que o terror das chamas.
Além disso, as chamas extinguiam-se por si, desde que o aspirante tivesse passado, e, quando ele se reencontrava em uma sala livre, depois desta prova terrificante, o futuro iniciado, sem perceber o que tinha feito, sentia que seu valor e sua constância tinham vencido a um duro obstáculo, e este pensamento o encorajava no prosseguimento de suas provas.
3- A da Água: ele avançava por novas galerias e, de súbito achava-se diante de um canal largo, que lhe impedia o caminho. Onde a água entrava de um lado desta câmara subterrânea gradeada e saía por outra grade do outro lado.
Esta massa de água escoava-se com um grande ruído. Mas, qualquer que fosse o perigo, a iniciação era o premio. Sobre a margem oposta, via-se duas rampas emergirem da água para conduzirem a uma arcada, sobre a qual apareciam degraus que se perdiam na penumbra. O candidato descia até a água, tomava em uma das mãos a sua lâmpada acesa e atravessava este rio subterrâneo com uma só mão a lutar contra a correnteza forte. A travessia não era muito longa, mas também não era sem perigo. Após completar a travessia, ele sabia que nova prova o esperava.
4- A do Ar: o candidato subia os degraus da escada, e quando chegava ao alto desta escadaria achava-se sobre um pequeno patamar, que era na realidade uma ponte levadiça, e que conduzia a uma porta, mas esta não apresentava nenhum meio para abrir diretamente, nela achavam-se suspensos dois grandes anéis e era impossível ao candidato, depois de ter experimentado abrir esta porta, não ter o pensamento de que estes anéis tivessem uma utilidade e que dissimulavam, talvez, qualquer segredo capaz de abrir-la. Ao segurar os anéis, a ponte levadiça se movia e o candidato se achava suspenso entre no ar, esperando a salvação de qualquer mão libertadora.
Os anéis levantavam-se por sua vez, com o candidato pendurado, a lâmpada que trazia, abandonada sobre a ponte, virava, deixando nas trevas aquele que tinha tanta necessidade de luz.
Neste momento, o ar era violentamente agitado como por uma tempestade desconhecida e o candidato, sempre pendurado, tateava no vácuo e na obscuridade, devendo vencer por sua vez o legítimo terror e fadiga de sua penosa posição.
Mas, no momento que suas forças iam faltar, os dois anéis desciam, e o aspirante retomava contato com a terra.
O que se oferecia aos seus olhos era de natureza a apagar a lembrança de suas penas.
Então ele via a Luz.
A vasta sala de um templo cintilava então aos seus olhos deslumbrados.
Sacerdotes formavam alas que iam da porta até o fundo do santuário, eram finalmente as boas vindas.
O aspirante recebia um copo de água pura, símbolo da iniciação e da purificação ao mesmo tempo.
Ele era levado ante as estátuas de Osíris, Isis e Horus; e o sacerdote dizia:
“Isis, grande Deusa dos egípcios, daí o vosso espírito ao novo servo, que venceu tantas provas e tantos trabalhos para se apresentar diante de vós. Tornai-o vitorioso do mesmo modo nas provas de sua alma, que o tornarão dócil às vossas leis, e que mereça ser admitido em vossos mistérios”.
Havia chegado ao termo de suas experiências materiais. Passara pela prova da Terra, achava-se purificado pelo Fogo, pela Água e pelo Ar.
Ele havia vencido o terror da morte. Tinha o direito de ver a Luz. Podia preparar a sua alma para as revelações esperadas. Era admitido aos Mistérios de Isis.
Fosse qual fosse o ensinamento desses Mistérios, não podia deixar senão uma impressão no espírito e as boas sensações daquele que as tinha conquistado de modo tão caro. Por isso os Mistérios de Isis deixaram na literatura e nas artes gráficas, um traço mais considerável do que qualquer outra iniciação.
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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 6.4 - O EGITO - HERMES TRISMEGISTO

MAÇONARIA
ORIGENS INICIÁTICAS

6.4
O EGITO
HERMES TRISMEGISTO

Não é possível precisar exatamente a data dos livros de Hermes Trismegisto (três vezes mestre, soberano, pontífice e legislador). Contém ensinamentos de Thot, o Hermes egípcio (a ser comprovado), que somos conduzidos a considerar como o nome coletivo de um grupo de altos iniciados ou como o símbolo da iniciação.
Nos primeiros séculos da era cristã, ele é citado nas numerosas obras de filosofia religiosa. A sua obra foi vista na Grécia ou em Alexandria, que era, neste momento , um centro intelectual de um clarão prodigioso e onde se reencontram os sábios hebraístas com os mais eruditos helenistas do século. A escola de Alexandria produziu esta floração esotérica sobre a qual voltaremos quando tratarmos de esoterismo cristão ou gnosticismo.
Os livros de Hermes são muito anteriores a este período.
Foi sua doutrina que inspirou toda a iniciação mediterrânea; são a ela que devemos os mistérios de Orfeu, os ensinamentos de Pitágoras, os diálogos de Platão.
Os três livros que chegaram ao nosso conhecimento são: o Poemander ou Pimandro e com ele Asclepios ou o Discurso de Iniciação e a Tábua de Esmeralda, um dos textos primordiais das iniciações ocultas, e muitas vezes comentado.
No Pimandro, Hermes ainda discípulo, recebe os ensinamentos de Pimandro, que é a consciência superior, diretora do homem, quando ele se coloca sob as ordens da inteligência soberana ou divina, da qual todos os universos não são mais que uma fraca imagem.
O que ensina a seu discípulo esta inteligência suprema?
Primeiramente a abrir os olhos ao espetáculo do mundo criado, do qual cada ser é a imagem de uma realidade superior, adquirir a ciência, dominar as paixões, defender-se da ignorância, não ser escravo dos seus sentidos.
“Antes de tudo, é preciso rasgar esta roupa que trazes, esta vestimenta da ignorância, princípio da maldade, cadeia de corrupção, morto-vivo, cadáver sensível, inimigo do amor, ciumento no ódio, túmulo que conduzes contigo, ladrão doméstico. Tal é a vestimenta inimiga de que estás revestido, atraindo-te, temendo que o espetáculo da verdade e do bem te façam odiar a sua maldade, descobrir os embustes com que te rodeia, obscurecendo-te o que parece claro, mergulhando-te na matéria, enervando-te em volúpias infames, a fim de que não possas entender o que deves entender e ver o que deve ver”.
O adepto deve revelar o que aprendeu àqueles que têm sofrido as mesmas experiências, sendo estes preceitos dado por Hermes a seu filho Tat, iniciado pelo seu pai, seu mestre, de seu superior na vida iniciática. Hermes mostra a seu filho, quais são as doze falhas, das quais ele se deve desfazer antes de empreender qualquer obra iniciática, assim como se prepara a casa antes de se receber os hóspedes divinos; a ignorância, a tristeza, a intemperança, a concupiscência, a injustiça, a avareza, o erro, a inveja, a malícia, a cólera, a temeridade, a maldade.
São doze e têm sob as suas ordens um número maior ainda.
Para tornar-se iniciado, o primeiro passo a evitar é a ignorância. O primeiro dever é Conhecer-se, ver o lugar que o homem ocupa na Natureza e as relações de seu ser com os mundos superiores.
O silêncio é a força do iniciado e é uma grande ciência esta concentração em que a alma se recolhe para receber as iluminações mais altas e se elevar até Deus sobre as asas da inspiração.
No Asclepios, encontramos outras palavras igualmente iniciáticas. É o Discurso da Iniciação de Hermes ao seu discípulo Asclepios.
Hermes inicia o futuro curador que corresponde a Esculápio, ao Deus da medicina, e lhe demonstra que apesar da multiplicidade de suas manifestações e de suas imagens na teogonia egípcia, não existe senão um só Deus e que só ele tem direito à nossa adoração e às nossas homenagens. Este Deus é, assim, como já vimos Amon-Ra (Amon, oculto; Ra, o sol), a luz secreta, a força universal que não poderia ser revelada a todos sem preparação.
É preciso pôr-se em harmonia com esta força para vir a ser capaz de fixa-la.
O grande iniciado do Egito oferece todo o conjunto a seu discípulo, os meios de tornar-se evolucionado, as satisfações que ele gozará na realização desta obra e o fim que pode atingir.
Nesta fraternidade, todos os seres são nossos irmãos; eles são nós mesmos e nós somos eles, não existe mais interesse particular, não existe mais, em absoluto, vida particular.
Para o egípcio, todos os seres, por diversos caminhos, tendem ao mesmo fim; tornar-se um Osíris, isto é, um Deus, uma parcela consciente e divina do Todo divino, toda criatura evoluciona, toda criatura se aperfeiçoa.
Hermes Trismegisto, o possuidor da ciência do antigo Egito diz: “Feliz o que, à sua entrada no mundo subterrâneo, puder dizer a seu coração, conforme a antiga fórmula do Livro dos Mortos. Ó meu coração, não me acuseis perante o Deus do julgamento. Eu não matei nem traí. Não persegui viúvas; nem roubei o leite às criancinhas. Não provoquei lágrimas; não menti diante de nenhum tribunal; não obriguei os trabalhadores a fazer mais do que poderiam; não fui negligente nem preguiçoso; não maltratei o escravo no espírito do mestre; não defraudei a ninguém; não viciei as medidas nem ultrapassei os limites dos meus campos; conciliei-me com Deus, pelo amor, dei pão ao faminto, água ao sedento, roupas aos nus, condução ao que não podia prosseguir sua viagem”.
Todos procuram, adquirem ou adquirirão poderes. Todos desenvolverão a acuidade de suas sensações. Todos realizarão em um tempo mais ou menos longo e atingirão as esferas que vemos abrir diante dos nossos olhos encantados.
Dia virá em que todos nós seremos iguais na presença absorvente de Deus.
É, pois, inútil ver, em um estado superior, outra coisa além dos cargos e das responsabilidades, por vezes bem pesadas.
Apressemos esse ciclo pela reflexão, pela meditação e pelo trabalho, mas não tenhamos ódio nem cólera, nada senão uma profunda e terna piedade para aqueles que agravam seu fardo e perseguem quimeras que os impedem de conhecer a senda do verdadeiro Bem.
Fora desta moral, os iniciados que formavam a classe sacerdotal possuíam conhecimentos muito extensos em todos os domínios científicos.
Todos deviam conhecer e penetrar os ensinamentos de Hermes, mas suas funções lhes eram distribuídas segundo suas capacidades particulares e, nas cerimônias, eles formavam longos cortejos onde cada personagem tinha uma função precisa, revelada por insígnias especiais de conformidade com seu grau de iniciação e com os ritos que ele tinha a missão de praticar.

A TÁBUA DE ESMERALDA
É verdade, sem engano, certo e muito verdadeiro:
O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que esta embaixo; por tais coisas se fazem milagres de uma coisa só.
Assim como todas são e procedem do Uno, pela meditação do Uno, assim todas as coisas nasceram desta única, por adaptação.
O Sol é seu pai, a Lua sua mãe. O Vento trouxe-a em seu ventre. A Terra o alimenta e é seu receptáculo.
O Pai de tudo, o Telesma universal, está aqui.
A sua força permanece inteira quando se converte em terra.
Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, suavemente, com grande habilidade.
Sobe da Terra ao Céu e desce novamente à Terra e recebe a força das coisas superiores e das coisas inferiores.
Por este meio obterás a glória do mundo e toda obscuridade se afastará de ti.
È a força de toda força, pois vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida.
Assim o mundo foi criado; disso sairão adaptações admiráveis cujo meio é dado aqui.
Por isso me chamam Hermes Trismesgisto, porque possuo as três partes da sabedoria do mundo inteiro.

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